REVISITANDO TECNOLOGICAMENTE A NONA SINFONIA DE SCHUBERT, "A GRANDE"

E a obra de hoje é a Nona Sinfonia de Schubert, D 944, "A Grande".





Schubert, compositor romântico, contemporâneo de Beethoven, faleceu em 1828. Compôs um total de dez sinfonias, mas nem todas foram acabadas. Sua fama advém principalmente dos lieds e por causa de uma partitura que foi encontrada na gaveta da escrivaninha de um amigo, trata-se da famosa "Sinfonia Inacabada" que tinha apenas dois movimentos completos e rascunhos dos demais.


Foi uma época difícil para Schubert, estava muito doente, acamado e com sífilis. Depois, sua saúde melhorou e ele viveu o auge da sua meia idade, aos seus trinta e poucos anos. Nessa ocasião, recebeu uma encomenda da Sociedade Musical de Viena, uma nova sinfonia. Schubert então escreveu uma sinfonia que foi denominada "Gastein Gmudem", a qual fora apresentada para orquestra daquela sociedade musical. No entanto, a partitura era muito difícil e depois de alguns ensaios, a orquestra entregou os pontos. A partitura quase se perdeu...
Schubert, entretanto, voltou a trabalhar na partitura, reescrevendo-a e aperfeiçoando-a, dando origem a sua nona sinfonia (a qual possui quase uma hora de duração), usa a orquestra padrão de Haydn, acrescida de um trio de trombones. Entretanto, acabou falecendo sem ouvi-la. Alguns anos após sua morte, o compositor e maestro Felix Mendelssohn descobriu a partitura da sinfonia. Mendelssohn era o regente da Gewvandhaus Leipzig, uma das melhores orquestras da Alemanha.



Mendelssohn, maravilhado com a obra decidiu executá-la com a orquestra. Foi um sucesso. Desde então, passou a lutar pelo resgate da obra sinfônica de Schubert, que era desconhecida. Schubert era considerado um mestre menor da música sinfônica, até o advento da obra interpretativa do maestro alemão,Wilhelm Furtwängler, titular da Orquestra Filarmônica de Berlim, que antecedeu a Herbert von Karajan.




Furtwängler era um maestro muito perfeccionista, minucioso ao extremo, que buscava sonoridade especial em cada um dos naipes de instrumentos. As vezes levava meia hora para ensaiar uma frase da música com a orquestra. Suas gravações da nona sinfonia de Schubert ao longo de sua carreira mudou o conceito de Schubert na História da Música. Com Furtwängler, interpretar não era mais interpretar, mas na verdade, tratava-se de uma obra de recriação, é construir novamente a obra do compositor, e foi exatamente isso que ele fez com a obra de Schubert. As suas gravações de 1942 e 1953, ainda em mono, são consideradas registros insuperáveis da arte da interpretação ainda nos dias atuais. Maestros como Bruno Valter, Herbert von Karajan, Leonard Bernstein, Riccardo Muti, John Eliot Gardiner, declararam ser admiradores admiradores deste trabalho. Com Furtwängler, Schubert passou a ser considerado um músico de primeiro grau de importância no mundo sinfônico. Hoje, sua nona sinfonia se rivaliza em grandiosidade e beleza até com a nona sinfonia de Beethoven. O conhecimento dessa obra trata-se de uma das experiências imprescindíveis para aqueles que desejam conhecer a evolução do Classicismo para o Romantismo, bem como, estudar as técnicas de orquestração e colocação das vozes nos naipes da orquestra sinfônica. A obra é realmente grandiosa e belíssima 

A tecnologia, entretanto, torna possível a nós apreciarmos preciosa gravação de 1.953, na Igreja de Jesus Cristo, em Berlim, com a Orquestra Filarmônica de Berlim, sob a direção de Wilhem Furtwängler. Vejamos:






Observem a beleza do trio do terceiro movimento, o Scherzo: aos 35:30 minutos, há um belíssimo coro das madeiras, acompanhado pelo trio de trombones e fagotes sob o arpejo dos violinos. Nunca mais ninguém conseguiu fazer as madeiras cantar com tanta eloquência. Nunca se ouviu tão maravilhosa sonoridade.
Escute o fantástico finale a partir de 47:20 minutos. Observe a quantidade de notas nos violinos. Depois o perfeito equilíbrio entre os diversos naipes da orquestra. O alegre tema principal reaparece aos 48:48 minutos (formado de quatro notas repetidas) vai crescendo em intensidade até o máximo de sonoridade da orquestra e inclusive em expressão rítmica.


Ouça os trompetes em 50:07 minutos (nunca mais ninguém gravou assim esta sinfonia). E, finalmente, o estrondoso finale aos 51:20 minutos, no qual toda orquestra marca o ritmo enquanto os trompetes tocam fanfarras.




O falecimento de Wilhem Furtwängler abalou o mundo da música em 1.954. Nunca mais ninguém regeu com tanta profundidade uma obra musical.

Importante ressaltar que o conhecimento de todos estes fatos somente se faz possível por meio da tecnologia musical, computadores ligados via internet. Hoje por meio do Youtube, podemos ouvir essa preciosidade, sem ter que sair do cômodo de nossa residência. Igualmente, no ensino de História da Música é possível a referida imprescindível experiência.

Há uma excelente gravação moderna, em vídeo, com famoso maestro italiano, conhecido, igualmente, pelo seu temperamento explosivo, Riccardo Muti, o "Duce", e a Orquestra Filarmônica de Viena,  com som digital de máxima qualidade (não em mono):





Mas seria apenas uma tentativa de recriação da genial interpretação de 1953? 
Possui muitos méritos. Quase chega lá....
Escute o maravilhoso trio do Scherzo aos 37:50 minutos e confira a diferença... entre mono acústico ou digital.


REFERÊNCIAS:


CARPEAUX, Otto Maria, Uma Nova Historia da Música, São Paulo: Ediouro, 1992; 

JACOBS, Arthur, Guia da Música Orquestral, São Paulo: Edições Siciliano, 1990;

GEITEL, Klaus, Schubert Sinfonia n.º 9, Filarmônica de Berlim, Wilhem Furtwängler, Deutsche Grammophon Gesellschaft;

LEBRECHT, Norman, Maestros, Obras-primas & Loucura, a vida secreta e a morte vergonhosa da indústria da música clássica, São Paulo: Record, 2.008;


MONTANARO, Paulo. R. livro eletrônico: a inclusão digital na sociedade em rede. Material didático da disciplina Tecnologia da Internet para Educação Musical, OTIEM. UFSCar.

Acesso em: 14.10.2.017

NESTROVSKI, ARTHUR, Notas Musicais, São Paulo: Publifolha, 2.005;

TRANCHEFORT, François-René, Guia da Música Sinfônica, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990;

TRANCHEFORT, François-René, Guia da Música de Câmara, Lisboa: Gradiva, 2004;


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